Artista explora
memória e camadas em mostra individual
Rastros de exposições passadas povoam
as peças de “Arqueologia Contemporânea”, que acontece de 03/11 a 05/12 no
Palácio Tiradentes. A mostra do artista visual Claudio Partes é fruto de uma
exploração experimental e utiliza técnicas de restauro sobre painéis que
integravam uma galeria de arte por quase 10 anos. Tudo para trazer à tona
resquícios de exposições antigas, explorando o conceito de memória.
A mostra chega ao Palácio após chamar
atenção da curadoria pelo sucesso alcançado no Centro Cultural Fase-FMP, em
Petrópolis, onde estreou. O próprio espaço e as mostras que recebeu nos últimos
nove anos motivaram o trabalho, que envolveu um processo conhecido como
prospecção pictórica ao longo de 45 dias. O público pode acompanhar de perto a
intervenção pública, em que o artista restaurou os painéis através da
identificação das camadas de tintas sobrepostas nas peças, sem abrir mão de
preservar seu valor estético e histórico. A proposta foi conduzir os visitantes
à reflexão sobre a relação entre efemeridade e preservação e revivenciar o
espaço, suas dimensões e expressões por meio de um diálogo que atravessa o
tempo, integra e promove o reencontro. O processo de finalização das obras se
dá na contramão da pintura, na sua desconstrução, onde a criação acontece
removendo as camadas de tinta, resgatando o que foi e, em alguns casos,
chegando ao seu ponto de partida que é a tela ou a parede branca.
As peças da primeira fase deste
trabalho são algumas das que serão expostas no Palácio Tiradentes. Outras ainda
são inéditas e foram criadas por Claudio Partes apenas para esta exibição. “O
que mudou da primeira edição para esta foi principalmente a característica visual
do suporte, pois por mais que em alguns casos sejam os mesmos, por terem sido
recortado das ‘paredes’ do espaço de origem, eles passaram a assumir de forma
mais forte uma relação com a pintura. Ao longo da intervenção anterior, algumas
técnicas e ideias foram surgindo e sendo amadurecidas, somadas com pesquisas
que trazem para esta exposição algumas soluções e expressões novas, tornando a
experiência mais rica em termos artístico e sensorial”, reflete Claudio.
Responsável por esse resgate, o artista
se propõe em trazer à tona, por meio das camadas de pinturas, a riqueza de
informações em seus vários níveis e analogias. A obras se apresentam como um
corpo, com registros e memória (envelhecimento, cicatrizes, as intervenções e
seus significados) à mostra. Entre as influências para a intervenção estão a
obra do artista Gordon Matta-Clark, ideias de poética do espaço de Bachelard e
da sacralização do patrimônio de Bordieu.
Para a mostra no Palácio Tiradentes,
ficam expostas 10 obras, sob o comando do produtor Elissandro de Aquino.
Transpostos para outro espaço, os painéis são ressignificados. “Recorrendo a um
chavão, as obras às vezes tendem a ganhar vida e força própria, e acredito que
isso de certa forma está acontecendo com os trabalhos removidos de seus espaços
de origem. Sua força enquanto “pintura” cresceu e enquanto processo de
trabalho, ainda tendo as técnicas originais como norteadoras, se sofisticou.
Acredito que dialogam bem com o espaço histórico do Palácio Tiradentes,
proporcionando um contraste muito interessante”, explica o artista.
À primeira vista, as obras têm em comum
um senso de oposição e antítese cronológica ao reunir elementos até então
contraditórios. Mas um olhar mais aprofundado permite perceber que o tempo, o
grande agente polarizador para cada camada exposta, ganha um novo status ao
abraçar suas próprias cicatrizes. Na tela, as “feridas” são abertas. Saem as
camadas de tinta e os pincéis e entram bisturi, lâmina de estilete, esponja e
espátula. São ferramentas do restaurador e arqueólogo em busca da memória e do
passado encapsulado e camuflado, em uma reflexão direta sobre a origem das
coisas e o limite do que deve ser mostrado e do que deve manter-se em segredo.
Sobre Claudio Partes
Artista visual, fotógrafo e designer há
mais de 25 anos, Claudio Partes realiza com “Arqueologia Contemporânea” a sua
primeira mostra individual no Rio de Janeiro. Seu trabalho tem a imagem como
grande norteadora e busca explorar ao máximo as possibilidades e meios para
expandir a expressão e experiência.
Formado em Artes Gráficas (CFP-Senai,
1991), Claudio se especializou com cursos de extensão em Artes e Ofícios da
Imagem (Museu Imperial) e de Educação em Escolas de Período Integral (UERJ),
além de cursos livres diversos, com foco em desenho, pintura, arquitetura,
cenografia e fotografia.
A formação do artista também se deu por
meio de referências ecléticas. “Destaco Miró, que na adolescência me fascinou
muito pela cores primárias e aparente simplicidade; Raymond Lowey, que me
conduziu ao design; e nomes como Aloisio Magalhães, Wladimir Dias-Pino e Gringo
Cárdia, além de estudos e obras inquietantes, provocativas e estimulantes de
autores como Nietzsche, Jung e Bauman”, revela Claudio.
A leveza e a busca pelo essencial são
algumas das características mais marcantes de seu trabalho, como um todo. Em
alguns momentos, essas imagens assumem ares tênues, em uma aproximação do
sentimental e espiritual, em contraposição ao material. O objetivo é sempre o
de sensibilizar e evocar sentimentos. Esses são aspectos existentes em obras
fotográficas como “3x4” (2008) e “Sútil” (2009) e em objetos como “Brasil”
(2014) e o “Alfaiate de Asas” (em desenvolvimento), entre outros.
Além dos trabalhos individuais, vistos
em exposições como “Fragmentos” (Centro de Cultura Raul de Leoni, Petrópolis,
2012) e “Ensaio BioGráfico” (Centro Cultural FASE - FMP, Petrópolis, 2013),
Claudio traz no currículo coletivas como a Semana de Arte de Portinari
(Brodowski - São Paulo, 1991), "Espaço Vazio" (Mac, Niterói, 2007),
"Arte Garagem” (Petrópolis, 2009 e 2014) e “6 Descem a Serra” (Centro
Cultural Light, Rio de Janeiro, 2014).
Serviço
Arqueologia Contemporânea
Período: de 03 de novembro a 05 de dezembro de 2016
Visitação: de segunda-feira a sábado, das 10h às 17h; domingos e
feriados, de 12h às 17h
Local: Palácio Tiradentes
Endereço: Rua Primeiro de Março, s/nº – Praça XV – Rio de Janeiro/RJ
Informações e visitas em grupo: (21) 2588-1251 ou (21) 2588-1393
Entrada: Gratuita
Classificação: Livre
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